No dia 21, quinta-feira, o museu Henriqueta Catharino foi palco de um debate sobre a vida e a obra de Josué de Castro (1908-1973), patrono da Mostra de Ciência e Tecnologia da 6ª Bienal de Cultura e Arte da UNE. O acontecimento fez parte de um ciclo de três debates sobre produção científica que está acontecendo no evento.
Para ampliar a compreensão acerca do legado do autor de Geografia da Fome (1946), foi exibido o documentário Josué de Castro – Cidadão do Mundo (Silvio Tendler. Brasil, 2004). A fita mostra o percurso do pernambucano que era médico de formação e humanista nato. Castro não limitou suas pesquisas à medicina oficial, enveredou também pelas ciências sociais e denunciou a condição dos miseráveis do Brasil, ainda sem a devida atenção dos intelectuais brasileiros. Sem se enclausurar entre os muros da academia, Josué de Castro fez das margens do Capibaribe sua “Sorbone” e defendeu que a solução para a fome é muito mais simples do que aparenta, basta transferir parte de alguns gastos inúteis, como os da indústria bélica, para alimentar seres humanos. Assim, pregava que a paz se faz com “pão e amor”. Josué foi indicado três vezes para o Prêmio Nobel (dois “da paz” e um “de medicina”).
O filme foi debatido pelo próprio diretor, Silvio Tendler, pelo sociólogo Renato Carvalheira, pelo representante da Secretaria Nacional de Segurança Alimentar, Marcelo Piccin, e pelos estudantes presentes.
Os convidados, além de demonstrarem seus laços afetivos com o pensamento de Josué de Castro, fizeram reflexões sobre a fome no Brasil de agora. “Josué é muito atual, infelizmente. Se ele é muito atual, é porque o problema da fome é velho”, ressaltou Cavalheira.
O debate
“Para mim não há diferença em fazer um filme e debater um filme”, assim Tendler iniciou o debate, convidando o público a repensar a importância de Josué de Castro, a partir da película que dirigiu. O cineasta explicou que começou a incursão pela vida do pensador pernambucano, quando a família de Josué o convidou para realizar o documentário. No decorrer do projeto, passou a admirar, cada vez mais, o “teórico do mangue”. As filmagens possibilitaram uma aproximação entre o diretor e personalidades da tarimba de Dom Hélder Câmara e Darcy Ribeiro. Estas pessoas, que tanto se simpatizavam com Josué, deram vida ao filme através de relatos emotivos que narram a vida do médico desde a infância pobre, em Pernambuco, até a morte no exílio, em Paris.
Renato Carvalheira, diferente de Tendler, começou a afeiçoar com a figura de Josué de Castro ainda na infância, devido à influência do pai sociólogo. Porém, somente em 1996, despertou para a obra do pernambucano, através da música de Chico Science (Da lama ao caos). Na Universidade, procurou material sobre o cientista. Percebendo que a produção acadêmica sobre ele era escassa, resolveu pesquisá-lo. Em 1998, concluiu o curso de Ciências Sociais, na UnB, defendendo a monografia Josué de Castro: o teórico do mangue. Os estudos não se limitaram à graduação, o mestrado e o doutorado de Carvalheira também tiveram Castro como objeto de estudo. Na sua fala, o sociólogo esclareceu que alguns direitos tidos como básicos hoje, têm suas raízes na obra de Josué de Castro. É o caso do salário mínimo.
Dando mais ênfase nas condições contemporâneas da pobreza brasileira, Marcelo Piccin mostrou, através dos números da Secretaria Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional (SESAN), o quanto os escritos de Josué de Castro ainda são atuais, haja vista os índices de insegurança alimentar, em algumas localidades do norte-nordeste, que ultrapassa 50%. Isto indica que mais da metade destas famílias sofrem com a possibilidade de não ter alimento em casa ou, pior, chegam a passar momentos sem ter o que comer.
Josué de Castro, para Piccin, está entre os três maiores ícones do combate a fome da história do Brasil, junto a Hebert de Souza (Betinho) e o Presidente Lula. Este, por sinal, tem em Josué de Castro a base para alguns de seus programas sociais, tais como o Fome Zero e os Restaurantes Populares. Iniciativas estas, defendidas por Marcelo Piccin como de extrema necessidade. “Dar acesso ao alimento não é assistencialismo, é um direito humano”, reitera o representante da SESAN.
O debate encerrou com a participação dos estudantes presentes que, apesar de poucos, prolongou a conversa para além do momento previsto para o término.
Núcleo de Comunicação CUCA da UNE
quinta-feira, 22 de janeiro de 2009
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