quinta-feira, 22 de janeiro de 2009

10 anos de Bienal

Abrindo os debates da 6ª Bienal de Arte e Cultura da UNE, foi realizado o debate “UNE e cultura: 10 anos de Bienal - balanço dos avanços e desafios da construção da rede brasileira e latino-americana”.

Confira os principais momentos das falas dos debatedores, que teve a presidente da UNE, Lúcia Stumpf, como mediadora:


ALDO ARANTES

Para entender as condições de surgimento do CPC é necessário entender as condições que o país vivia. A expressão política estava ligada à liberdade de expressão e a UNE buscava um novo diálogo com o Movimento Estudantil.

Ao organizar o CUCA a UNE dá um salto de qualidade, porque amplia a rede cultural latino-americana, dando-lhe uma dimensão maior, mais ampla e mais universal. Esse caminho ajuda a unificar e fortalecer o Movimento Estudantil, mas é uma peça importante de algo maior, que é o projeto nacional do desenvolvimento. Então a questão da cultura, da formação da identidade cultural, é um elemento importante na formação da identidade de um povo.

Assim, toda a concepção neo-liberal, de que a luta pelo socialismo, pela defesa da soberania nacional estavam superados se mostra falsa. A crise que estamos vivendo, do neo-liberalismo, bota tudo por terra. Portanto, é necessário renovar a esperança de que outro mundo é possível, mas só é possível com a nossa ação e visão crítica, com a intervenção do conjunto da sociedade. E para isso os estudantes jogam um papel fundamental.

TIAGO ALVES

Em sua criação, o CUCA era mais ligado à produção cultural universitária. A partir dos Pontos de Cultura, o CUCA transforma sua visão sobre o movimento cultural, indicando que é preciso romper com os muros e criar um diálogo da cultura popular com a cultura erudita produzida pela universidade.

Agora, daqui para frente o CUCA tem dois desafios:

O primeiro é radicalizar a proposta de diálogo com a rede dos Pontos de Cultura e com aquilo que é produzido fora da universidade. É preciso que a gente apresente um diálogo para a sociedade daquilo que está dentro da universidade com o que está fora. Acho que a Bienal está refletindo este desafio. Na última Bienal tivemos uma experiência interessante com os Pontos de Cultura e esta Bienal reafirma este desejo de relação e também procura construir novas relações.

O outro desafio é para as forças políticas que compõem o Movimento Estudantil. Esse conjunto de forças políticas que compõem a UNE deve ter uma decisão mais firme no sentido de entender que o trabalho cultural é importante não só pelo próprio trabalho cultural, mas que também é muito importante para oxigenar o Movimento Estudantil.

LÚCIA ao TIAGO

O Tiago é um grande incentivador de todas as atividades que a UNE desenvolve e sem a presença dele na história da entidade, esta 6ª Bienal não estaria se realizando com essa cara e com esse jeito.

TININHA

Lembro do manifesto que na 2ª bienal da UNE propôs a criação do CUCA, em um momento que coincidiu com a primeira eleição do Lula. Havia muita expectativa com o que seria o Governo Lula e a gestão de Gil no Ministério da Cultura. Fato que tem muito a ver com a época em que se criou o CPC porque ambos são momentos de euforia, de ampla liberdade e de abertura das perspectivas.

Então o Movimento Estudantil ajuda quem participa do CUCA a se politizar, a pensar melhor o país, e acho que o CUCA ajuda o Movimento Estudantil a abrir a cabeça, o coração e a mente, a abrir os sentidos e olhar por novos ângulos. Esse casamento que se deu na década de 70, é o mesmo casamento, só que como todo casamento, para durar, tem que se reinventar, encontrar novas formas, repensar e rediscutir todos os dias.

Também fico muito feliz de estar na Bienal, de conversar com as pessoas, de abrir o blog do CUCA que é muito legal. Acho que o projeto áudio-visual e o projeto de comunicação do CUCA hoje são ganhos imensos. Se eu pudesse elencar uma das coisas legais que vejo acontecer, de longe, é esse projeto, e as duas (referindo-se à Alessandra e à Vanessa Stropp) são muito responsáveis por isso. Então fico feliz porque vejo que a gente vai se reinventando.

No primeiro manifesto a gente fazia reivindicações para o Gil. Propomos uma nova política cultural para o Brasil que se preocupasse com a diversificação das expressões artísticas e que criasse espaços além dos criados pelo mercado. É incrível porque hoje através dos Pontos de Cultura, através da ação do CUCA, é possível interferir de fato na política cultural que o governo Gil desenvolve no país. Tivemos uma atitude ativa neste processo. E acho que isso é um grande ganho.

ALEXANDRE SANTINI

Vou me aproximar mais de algumas idéias, que tem a ver com a maneira com que o CUCA se organiza, pensa e propõe refletir sua ação.

Primeiramente, a relação direta com a experiência do CPC. É importante lembrar que o modo de qualquer produção cultural e artística determina necessariamente o produto, o que será gerado.

Assim, quando o Aldo fala do Arena, é porque por mais que o Arena tivesse uma proposta artística inovadora e que tratasse das questões do povo brasileiro, era um teatro de 150 lugares que falava para um público muito específico. Quando surge o CPC o Arena começa a pensar que era preciso mudar o modo de vincular a produção artística e cultural ao Movimento Estudantil e Social. Isso significava que naquele momento uma atitude política também passou a determinar a forma e o conteúdo daquela produção.

Então, ao falarmos hoje na relação entre cultura, políticas públicas e movimentos sociais, é porque o modo de produção determina o produto. E quem é artista ou produtor cultural, quem pensa a cultura na sociedade, não pode ter como único paradigma o mercado como agente regulador do processo de criação e circulação de bens e produtos culturais.

Nesse sentido o vínculo com o Movimento Social e com o Movimento Estudantil é também uma atitude política face à questão cultural. É uma base que significa não só o trabalho do CUCA e do CPC, como toda a produção cultural e artística a partir do século 20 vinculada aos Movimentos Sociais.

Segundo aspecto: A relação dialética sobre o papel do CUCA para dentro e para fora do Movimento Estudantil. Especialmente nesse momento com a opção de um trabalho mais voltado para as comunidades e para os Pontos de Cultura.

Para dentro, o CUCA contribui para a “culturalização” da política. A política é uma dimensão da cultura, e não o contrário. Nesse sentido o CUCA contribui para pensar as formas, os procedimentos, as relações do Movimento Estudantil. E por fora, contribui também para politizar o Movimento Cultural.

A criação e mobilização do Movimento Social a partir da cultura é uma novidade no Brasil. Produtores e comunidades estão compreendendo que seu trabalho tem dimensão não só na atividade fim, mas que também o próprio fato de ser artista os coloca em outra dimensão na forma de organização da sociedade. A produção cultural está dentro da luta de classes e tem posição nela, inclusive com bandeiras próprias.

E o último aspecto: Constatar que a abertura da Bienal só foi realizada porque o CUCA trabalhou nela, com circenses, com o audiovisual produzido com as imagens recolhidas pela equipe de audiovisual e com atores sintonizados ,pois todos fazem parte de um coletivo de artistas que se conhecem pelas atividades do CUCA.

Isso tudo mostra que o CUCA pode avançar. Devemos pensar na possibilidade do CUCA criar e produzir de forma mais ambiciosa, pois somos capazes. Só foi possível realizar a abertura porque o CUCA se engajou no processo. Porque sua estrutura, seus artistas e redes articuladas se engajaram para realizá-la, permitindo a criação do produto artístico.

Isso mostra que o CUCA está preparado para assumir desafios maiores sem deixar de ser o que já é, bebendo nesse passado essencial, sendo essa rede cultural horizontal ligada ao Movimento Estudantil e à outras redes sociais e culturais e também apontando para um futuro onde a cultura gera um papel determinante na transformação da sociedade brasileira.

LUIZ PARRAS

Trabalhei em todas as Bienais. Na primeira Bienal fui assistente do montador da mostra de artes visuais – com muito orgulho – e agora sou coordenador.

A crise entre as Bienais nacionais, como na Bienal de São Paulo, a Bienal do vazio, com o pavilhão vazio, reflete uma crise institucional. O fato da menina que grafitou os pavilhões em branco e ficou mais de 40 dias presa, deflagra uma crise nas Bienais que não se repete nesta Bienal da UNE – que inclusive está bem “cheinha”.

A história desse projeto da UNE, a Bienal, começa já na fundação da UNE e perpassa o CPC, que acho que é a maior referência que a UNE teve para re-implementar um projeto mais consistente, mais organizado e com certa autonomia. Diante dos 10 anos de Bienal penso que este projeto é extremamente vitorioso porque conseguiu acumular muitas pessoas, que mesmo não “fazendo mais parte”, continuam fazendo parte, na verdade, porque quando a situação aperta a gente liga para eles. São pessoas que estão sempre próximas.

Isso se caracteriza como um grande diferencial, porque o Movimento Estudantil tem sua lógica de mudar a diretoria de 2 em 2 anos – e acho que tem que ser isso mesmo. Mas o movimento cultural tem outra característica, porque cultura é basicamente processo.

E do ponto de vista da cultura, se não se valoriza o processo, valorizando-se somente o final, comete-se um erro de estratégica para a construção de algo mais consistente. Portanto, a Bienal é um processo extremamente vitorioso e dá margem para mais 10 anos desse projeto.

Temos toda essa geração nova que está chegando, com os CUCA's que foram fundados na segunda Bienal, sendo que hoje 10 deles fazem parte do projeto Pontos de Cultura e são preponderantes dentro dessa rede. A partir da Bienal do Rio, que também já tinha essa relação com os Pontos de Cultura, e agora esta que conta com a mostra dos Pontos, fica evidente que é de extrema importância que a Bienal tenha se ampliado para outra rede de produtores de cultura e, sobretudo, essa rede dos Pontos de Cultura.

Então é extremamente importante para mim, fico muito orgulhoso. Esta Bienal está muito bonita, com mostras muito bacanas, muito bonitas e bem montadas, contando com uma equipe de voluntários muito afetuosos e responsáveis. Embora com todas as difciuldades, porque quem organiza é a UNE, não é fundação da Bienal de São Paulo, não é nenhum Banco Mundial.

Então é difícil mesmo organizar este evento, pois a gente faz isso aqui basicamente na marra. Dormimos muito pouco e mal, comemos muito pouco também. Mas fazemos porque temos vontade de fazer, sangue no olho, fogo nas ventas, porque temos o desejo de fazer isso aqui. E acho que isso é o mais bacana. Diante desse aspecto tenho certeza que esse é um projeto vitorioso para mais muito tempo.

Gostaria de agradecer ao Tiago, porque ele coordenou três Bienais, sendo que eu estive ao lado dele. Portanto, tenho uma admiração especial por ele, o considero praticamente um irmão. Aprendi muito e sei que ele tem muito a ensinar para o CUCA e para muita gente.

Núcleo de Comunicação CUCA da UNE

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