quinta-feira, 29 de janeiro de 2009

LUAU COM ALCEU VALENÇA NOS JARDINS DE ALÁ!!!



Recuperados do “transe” causado pelo Pontão de Cultura Tá Na Rua no ESPAÇO CUCA, todos os participantes da 6º Bienal de arte, Ciência e Cultura da UNE seguiram cheios de energia e ânimo renovado para a praia do Jardim de Alá a fim de conferir o ultimo show da 6º Bienal da UNE: Alceu Valença, que retornou a programação das bienais da UNE, comemorando seis anos da sua última e memorável presença na 3º Bienal em Pernambuco quando ele encerrou as atividades no alto da sacada de sua casa em Olinda, levando ao delírio o público que prestigiou a terceira edição da nossa celebração nacional.


A brisa que vinha do mar atenuava o calor escaldante de Salvador, tornando o clima confortável para a festa que estava para começar.

Todo mundo batalhou por um espaço na areia e se amontoou na praia de Jardim de Alá para não perder nem um minuto do grande show. Para não perder nenhuma imagem, nenhum som, nenhuma poesia do grande Alceu...

A chuva também apareceu para ouvir a melodia e refrescar os corpos que se agitavam no meio da multidão entre sotaques diferentes, suores alheios, vozes que se perdiam dentro das músicas e uma energia que só pode vir da nossa juventude que é viva, é enérgica, é presente, é extasiante...

Mesmo com a chuva, Alceu não deixou que lhe tirassem o microfone. “Vou cantar aqui na chuva, que é mais próximo deles, o público”. E continuou. Nada o faria parar aquela noite. Ele estava ali por nós, conosco, para nós... E nós estávamos ali por ele, com ele e por nós. Foi essa a sintonia entre artista e público que imperou na noite mágica do lual no Jardim de Alá.

Entre letras de músicas que apontavam nas línguas de todos sem fazer esforço algum, Alceu, mágico da noite, dominou o ambiente com sua presença, com sua luz. E nos ofereceu um grande show de encerramento, a altura de nossa bienal, a altura de nosso público, a altura da luta! E arrasou.

No final, após duas voltas ao palco atendendo ás súplicas do público, Alceu finalmente nos deixou. Mas não nos deixou sozinhos; nos deixou levar para casa a lembrança daquela noite fantástica! A lembrança de sua presença infinita, da sua música, da sua poesia, da sua luz imensa, da sua “brasilidade”.

Salve, Alceu Valença!


Salve a UNE!

Salve o CUCA!


Salve, Salve a 6º Bienal de Arte, Ciência e Cultura da UNE!!!



Núcleo de Comunicação do CUCA da UNE

TA NA RUA NA BIENAL DA UNE 2009!!!




Já estava escuro.

As atividades do dia 24 já eram consideradas encerradas. O mirante do ESPAÇO CUCA no Passeio Público do Teatro Vila Velha estava vazio.

Todos os participantes da 6º Bienal de Arte, Ciência e Cultura da UNE estavam já se preparando para deixar o “coração da bienal” e voltar aos alojamentos buscando um banho fresco para retirar o suor da pele e correr para o lual com Alceu Valença, que nos esperava nas areias finas da praia do Jardim de Alá. Foi quando os atores-alunos do Pontão de Cultura Tá Na Rua do Rio de Janeiro invadiram o espaço espalhando pelo ambiente seus devaneios, suas loucuras, suas libertações, seus sonhos mais escondidos...


Viramos todos crianças novamente. Vivemos um momento mágico de leveza e de liberdade que em poucos minutos atraiu todo o público que já se retirava, acreditando que o melhor só viria mais tarde...

Uma multidão de artistas e não-artistas (que viraram artistas naquele momento), sob o comando embreagador do grande mestre Lico Turle e a seleção musical impecável de Pimpolho, ninguém escapou da fantasia. Nem mesmo o Núcleo de Comunicação do CUCA da UNE que estava presente para registrar a atividade ficou imune a ação do Tá Na Rua. Entramos na dança e na cena junto com todos os outros e completamos o cenário final do ESPAÇO CUCA da 6º Bienal da UNE: a integração total e geral.



Lindo. Mágico.

Coisas de bienal...

Núcleo de Comunicação CUCA da UNE

sábado, 24 de janeiro de 2009

A ciência popular em Dona Maria Gorda

“A ciência da “abeia”, da aranha e a minha/ Muita gente desconhece”. Os versos de João do Vale e Luís Vieira (confira esta canção interpretada por Tetê Espíndola), que tão bem ilustra a sabedoria popular brasileira, descrevem facilmente a Maria José Menezes dos Santos, a rezadeira Dona Maria Gorda. Aos 68 anos, ela pratica e repassa os saberes acumulados desde os seis anos, aprendidos através da mãe e da Avó.

Além de rezar, Dona Maria Gorda é uma exímia conhecedora de plantas medicinais. Fabrica artesanalmente beberagens com ervas, a partir da “horta medicinal” que cultiva no quintal. Os remédios são conhecidos e aprovados pela Comunidade do Candeal, bairro onde mora há mais de 40 anos, e por adeptos da fitotepia que chegam de outras freguesias.

Dona Maria tem entre seus “rezados”, além dos vizinhos, uma lista de pessoas “de gabarito”, como ela denomina. É o caso de Carlinhos Brown e o ex-prefeito de Salvador, Antônio Imbassahí. Os saberes da rezadeira foi tema de uma matéria no Globo Repórter em 2008.
Na 6ª Bienal de Cultura da UNE, ela esteve presente na Oficina “Plantas medicinais, reconhecimento, cultivo e manipulação”, ministrada pelo Grupo de Extensão Permanente Farmácia da Terra, composta por alunos de Farmácia da UFBA. Na ocasião, os estudantes puderam conhecer mais sobre a política de plantas medicinais no Brasil, mostrando as peculiaridades da nossa “medicina popular”, sendo esta uma alternativa aos abusos da indústria farmacêutica.

Para aqueles que ainda desconhecem a ciência de Dona Maria Gorda, vai aí a entrevista que fizemos com ela.

Quais são os males que a Senhora reza?

Eu rezo de mal olhado, de zipela, de dor de cabeça, de peito aberto, de vento caído, de cobreiro, de fogo selvagem, de impinge, de tudo. Já rezei “meimundo” de gente. Estou aqui, abaixo de Deus, para o que der e vier.

Também é conhecedora de plantas medicinais?

Eu cuido de planta desde os seis anos de idade. Aprendi com minha avó e minha mãe tudo que eu sei hoje. Então, agradeço a Deus e a elas pelo pouco que me ensinou. Quando eu me casei, eu rezava as pessoas lá na Baixa do Tubo, onde eu morei, mas era pouquinho. Vim ser descoberta no Candeal, quando eu rezei uma criatura de peito aberto. Ela já estava desenganada, e ficou boa. É Graciete, mora lá até hoje. O médico disse que não existia remédio, que não tinha reza para isso. Foi uma jornalista lá no Candeal. E, Ela [Graciete] falou: “tem uma senhora que reza aqui, e coisa e tal, eu me curei com ela”. Foi aí que eu fiquei conhecida. Foi a primeira entrevista que eu dei, assim, para sair no rádio, na televisão. Eu dizia assim ao meu marido: “um dia ainda vou sair na televisão, no jornal”. Ele dizia: “Você vai caçar o que fazer, pobre só sai na televisão, no jornal, quando morre, e morre de tragédia”. Eu dizia: “Não, eu vou sair com meus pequenos méritos”. Hoje em dia, graças a Deus, já cheguei até o Globo Repórter, com meus pequenos méritos.

A Senhora está passando seus conhecimentos para alguém?

Ninguém em minha casa quer aprender. Tenho duas filhas que já sabem rezar, mas só de "olhado”. Mas não quer rezar de mais nada, nem quer continuar a rezar de olhado porque ela diz que não tem pique pra isso. Às vezes, tem pessoas que eu pego e me deixam abalada. Ontem mesmo, rezei uma criança e passei mal depois. Me dar calafrios, me dar moleza, essa coisa toda. Então, elas dizem que não estão prontas para isso, não querem. Mal elas rezam os filhos. Sabem rezar, mas, quando os filhos tão moles: “Minha mãe, reze”. Eu digo: “mas você não sabe rezar?”. “Mas minha reza eu não tenho fé, não. Só tenho fé na da Senhora”.

Quem são as pessoas que a Senhora reza?

Eu já rezei Carlinhos Brown, a mãe dele, minhas comadres, meu pessoal todo. Já rezei rei, rainha, o cônsul da Espanha, a princesa e o príncipe, [Antônio] Imbassahí, Paulo Souto. Só não rezei João Henrique porque ele é ...[evangélico]. Antônio Carlos Magalhães quando era vivo. Rezei muita gente, muita gente, gente de gabarito. Gente igual a mim, gente pobre

E a senhora reza lá no posto [de saúde] também?

No posto de saúde! Você não viu no Globo Repórter?

A senhora cobra por esse trabalho?

Isso aqui eu faço e vendo [mostrou algumas beberagens engarrafadas]. Tem de R$10 e de R$6. Porque eu gasto coisa. Aqui eu compro mel, raspadura, açúcar, folhas que eu não tenho, como dandá do rio, cravo, canela... Muita coisa eu compro, mas tem coisa que eu tiro do meu quintal. Tenho minha pequena horta medicinal. Se esse mês eu faço e não cobro, para o mês eu não tenho para repor.

A senhora é ligada a alguma tradição religiosa?

Sou católica. Não sou feita no candomblé, mas gosto do candomblé. Quando eu nasci, prematura de sete meses, minha avó era mãe de santo, entendia as coisas. Me botou de barriga para cima, botou de bruços, de lado... Então, ela disse: “Esta está preparada para o mundo! Quando ela crescer e fizer onze anos e quiser seguir, ela vai fazer a parte dela”. É tanto que eu não tenho medo de macumba, não tenho medo de bruxaria, não tenho medo de nada. Abaixo de Deus, eu não tenho medo de nada. Tem uma pessoa lá no Candeal, a única pessoa, de todos os lugares que eu já morei, que eu tive desavença por causa de filho. A pessoa fez de tudo para me derrubar. Botou macumba na porta. Lutou e não conseguiu, deixou de mão.

Quando a senhora descobriu que seria rezadeira?

Com seis anos eu comecei a aprender, porque minha cabeça sempre foi boa. Doutor Paulo, da Universidade de São Paulo, fez uma entrevista comigo, há uns seis ou sete anos atrás. E disse: “Venha cá, Dona Maria, a senhora tem alguma coisa escrito?”. Eu disse: “Não”. “Como é que a senhora guarda tanta coisa?”. Eu disse: “aqui [aponta para cabeça] e aqui [aponta para o coração]”. Eu ganhei um gravador de primeiro mundo, estou botando algumas coisas no gravador. É para fazer um livro, eu nunca fiz. Pelo menos, amanhã ou depois, eu tenho alguma coisa guardada.

sexta-feira, 23 de janeiro de 2009

MARCELO D2 NO PELOURINHO!!!

Ontem a noite foi a vez e a hora de Marcelo D2 agitar a galera da 6º Bienal de Arte, Ciência e Cultura da UNE em Salvador.

No Largo do Pelourinho, no palco montado em frente a Fundação Casa de Jorge Amado, Marcelo D2, banda e convidados tiveram a oportunidade de tirar todos os participantes da bienal e a comunidade de Salvador do chão e do cansaço.

Em busca da batida perfeita, D2 embalou o público mesclando músicas novas e antigas, da época do Planet Hemp até músicas inéditas D2 não deixou por menos e fez um show que vai ficar para ficar na história da bienais da UNE.

Silvio Tendler e a cinebiografia engajada

Se a rapaziada quer refletir sobre o Brasil através de um cinema humanista, uma boa alternativa é colocar Silvio Tendler em cartaz. Isto a UNE fez na Bienal. O cineasta e professor da PUC-RJ, especialista em cinebiografias políticas, esteve em várias “salas” do evento. Participou da abertura, apresentou seu filme Josué de Castro – Cidadão do Mundo, no primeiro Debate de Ciência e Tecnologia, ainda contribuiu com um bate-papo sobre cinema brasileiro.
Confira a entrevista que fizemos com o documentarista durante a Bienal.

Por que a opção pela cinebiografia?

Porque quando eu estudei cinema documentário, estudei com um documentarista, o Joris Ivens, que dizia que o cinema precisa de personagem no documentário, à semelhança da ficção. Não fale de um tema em abstrato. Se você quer falar de democracia, fale de JK; se você quer falar de justiça social, fale de Jango; revolução, fale de Marighela; arte revolucionária, fale do Glauber. Então, eu aprendi esta lição com ele e estou fazendo isso. Eu acho que eu poderia falar da democracia como uma abstração, mas, falando do governo JK, estou falando de um momento do Brasil que a democracia funcionou. Eu poderia falar da justiça social, mas, falando do Jango, eu estou falando da justiça social, de reforma agrária, uma série de coisas que funcionaram. Então, é nesse sentido que eu acho que você deve ter personagem. Aí, o filme biografia funciona no sentido de trabalhar uma temática, tendo um personagem como fio condutor.

Há um consenso entre vários biografistas de que é muito mais fácil se biografar alguém que já morreu. Nota-se também que em sua obra existe a predominância de personagens mortos. Você tem isso como preferência?

Não é questão de preferência, é questão de coerência. Como a maioria do meu trabalho é de reconstrução de história política, tenho cuidado de não confundi meu trabalho de historiador com o de propagandista. Você faz um trabalho político de um cara que está vivo, você pode estar se confundindo com a meta de seu trabalho: a minha meta é contar história ou elegê-lo? Eu preciso trabalhar em cima de personagens mortos. Agora, eu não me furto a fazer campanhas políticas desde que eu tenha convicção. Eu fiz o primeiro programa nacional do PCB, fiz o primeiro e o segundo [programa] nacional do PSB, na época da constituinte. Ajudei a interferir na construção de uma constituição democrática. E, já fiz personagens vivos também, mas eram artistas. Fiz [o filme biografia] da [Maria] Antonieta, uma mulher que ensinou o Rio de Janeiro a dançar. Ela está viva até hoje e esse filme tem mais de dez anos. Não é que eu não faça, eu escolho o tema para fazer.

Você, algumas vezes, fez filmes a convite. Como é o caso do Josué de Castro, feito a convite da família dele, e os filmes sobre a UNE [Ou ficar a pátria livre ou morrer pelo Brasil e O afeto que se encerra em nosso peito juvenil] que foram a convite do Projeto Memória do movimento estudantil. Esses convites, de certa maneira, lhe tolhem?

Nunca tive nenhum tipo de constrangimento de, na hora final, disserem “isso pode” “isso não pode”. Nunca fiz filme que corresse o risco de sair com a cara da encomenda e não com a cara autoral. Isso é uma questão discutida antes de o filme começar a ser feito. A gente senta, olho no olho, e discuti o que quer fazer com aquele filme.

Já negou algum convite?

Muitos. Uma vez, eu recebi o convite de um banqueiro. Eu recebi o telefonema de um preposto de um banqueiro – não foi ele quem ligou pessoalmente – perguntando se eu topava fazer a biografia dele [o patrão]. Eu falei: “primeiro eu tenho de estudar a biografia dele, para ver se não tem nenhum ato na vida dele que desmereça. Se tiver, não. Mas, se não tiver, vamos lá. Aí, começou: “Você sabe, tem de ser um filme baratinho, não tem muito dinheiro”. Eu falei: “Meu amigo, eu vou trabalhar baratinho para banqueiro!?Desculpe, tem algum engano”...

Você tem um projeto de filme [Utopia e Barbárie] sobre sua geração, de 1968. Numa entrevista a Paulo César Pereio [no Sem Frescura, do Canal Brasil], você disse que tem preferência pelo tempo presente. Ao trazer à tona o ano de 1968, você acha que o jovem de hoje tem mais o que aprender com aquela geração ou tem de começar uma nova forma de revolução?

Eu aprendo muito mais com o jovem de hoje do que com minha geração. Acho que o resgate histórico sinaliza o futuro. Eu não faço um cinema com nostalgia, com saudades do passado. Não tenho nostalgia, não tenho vontade de viver no tempo do Josué [de Castro]. Tenho vontade de dizer o que o Josué fez e o que é importante que as pessoas, hoje, façam. Não tenho desejo de voltar ao passado. Nenhuma saudade, do ponto de vista de 1968, e nenhuma vontade de ser o general condecorado pelas batalhas de 68. Eu sou uma pessoa que vive meu tempo presente, voltado para o futuro. Eu trabalho do ponto de vista da reflexão. Outro dia, eu estava lendo uma entrevista que eu fiz com um professor meu, um historiador, na qual ele dizia que a história trabalha no ponto de vista da reflexão. A reflexão física também. É aquele raio que bate no espelho e se projeta para o futuro. Você não fica voltado, olhando para historia, com saudades. Eu olho para 68 e digo: “Nós éramos libertários, mas, hoje, estamos num mundo, excessivamente, careta. Vamos trazer um pouco dessa anarquia, dessa rebeldia, e vamos projetar, na vida de hoje para o futuro”. Acho que a vida hoje é bem melhor que no meu tempo.

Você já fez dois documentários sobre a UNE, em comemoração aos 70 anos da entidade. Desta Bienal, você levará mais imagens para um terceiro trabalho?

As moças estão cada vez mais bonitas. Se eu pudesse fazer um documentário poético, eu faria.

quinta-feira, 22 de janeiro de 2009

10 anos de Bienal

Abrindo os debates da 6ª Bienal de Arte e Cultura da UNE, foi realizado o debate “UNE e cultura: 10 anos de Bienal - balanço dos avanços e desafios da construção da rede brasileira e latino-americana”.

Confira os principais momentos das falas dos debatedores, que teve a presidente da UNE, Lúcia Stumpf, como mediadora:


ALDO ARANTES

Para entender as condições de surgimento do CPC é necessário entender as condições que o país vivia. A expressão política estava ligada à liberdade de expressão e a UNE buscava um novo diálogo com o Movimento Estudantil.

Ao organizar o CUCA a UNE dá um salto de qualidade, porque amplia a rede cultural latino-americana, dando-lhe uma dimensão maior, mais ampla e mais universal. Esse caminho ajuda a unificar e fortalecer o Movimento Estudantil, mas é uma peça importante de algo maior, que é o projeto nacional do desenvolvimento. Então a questão da cultura, da formação da identidade cultural, é um elemento importante na formação da identidade de um povo.

Assim, toda a concepção neo-liberal, de que a luta pelo socialismo, pela defesa da soberania nacional estavam superados se mostra falsa. A crise que estamos vivendo, do neo-liberalismo, bota tudo por terra. Portanto, é necessário renovar a esperança de que outro mundo é possível, mas só é possível com a nossa ação e visão crítica, com a intervenção do conjunto da sociedade. E para isso os estudantes jogam um papel fundamental.

TIAGO ALVES

Em sua criação, o CUCA era mais ligado à produção cultural universitária. A partir dos Pontos de Cultura, o CUCA transforma sua visão sobre o movimento cultural, indicando que é preciso romper com os muros e criar um diálogo da cultura popular com a cultura erudita produzida pela universidade.

Agora, daqui para frente o CUCA tem dois desafios:

O primeiro é radicalizar a proposta de diálogo com a rede dos Pontos de Cultura e com aquilo que é produzido fora da universidade. É preciso que a gente apresente um diálogo para a sociedade daquilo que está dentro da universidade com o que está fora. Acho que a Bienal está refletindo este desafio. Na última Bienal tivemos uma experiência interessante com os Pontos de Cultura e esta Bienal reafirma este desejo de relação e também procura construir novas relações.

O outro desafio é para as forças políticas que compõem o Movimento Estudantil. Esse conjunto de forças políticas que compõem a UNE deve ter uma decisão mais firme no sentido de entender que o trabalho cultural é importante não só pelo próprio trabalho cultural, mas que também é muito importante para oxigenar o Movimento Estudantil.

LÚCIA ao TIAGO

O Tiago é um grande incentivador de todas as atividades que a UNE desenvolve e sem a presença dele na história da entidade, esta 6ª Bienal não estaria se realizando com essa cara e com esse jeito.

TININHA

Lembro do manifesto que na 2ª bienal da UNE propôs a criação do CUCA, em um momento que coincidiu com a primeira eleição do Lula. Havia muita expectativa com o que seria o Governo Lula e a gestão de Gil no Ministério da Cultura. Fato que tem muito a ver com a época em que se criou o CPC porque ambos são momentos de euforia, de ampla liberdade e de abertura das perspectivas.

Então o Movimento Estudantil ajuda quem participa do CUCA a se politizar, a pensar melhor o país, e acho que o CUCA ajuda o Movimento Estudantil a abrir a cabeça, o coração e a mente, a abrir os sentidos e olhar por novos ângulos. Esse casamento que se deu na década de 70, é o mesmo casamento, só que como todo casamento, para durar, tem que se reinventar, encontrar novas formas, repensar e rediscutir todos os dias.

Também fico muito feliz de estar na Bienal, de conversar com as pessoas, de abrir o blog do CUCA que é muito legal. Acho que o projeto áudio-visual e o projeto de comunicação do CUCA hoje são ganhos imensos. Se eu pudesse elencar uma das coisas legais que vejo acontecer, de longe, é esse projeto, e as duas (referindo-se à Alessandra e à Vanessa Stropp) são muito responsáveis por isso. Então fico feliz porque vejo que a gente vai se reinventando.

No primeiro manifesto a gente fazia reivindicações para o Gil. Propomos uma nova política cultural para o Brasil que se preocupasse com a diversificação das expressões artísticas e que criasse espaços além dos criados pelo mercado. É incrível porque hoje através dos Pontos de Cultura, através da ação do CUCA, é possível interferir de fato na política cultural que o governo Gil desenvolve no país. Tivemos uma atitude ativa neste processo. E acho que isso é um grande ganho.

ALEXANDRE SANTINI

Vou me aproximar mais de algumas idéias, que tem a ver com a maneira com que o CUCA se organiza, pensa e propõe refletir sua ação.

Primeiramente, a relação direta com a experiência do CPC. É importante lembrar que o modo de qualquer produção cultural e artística determina necessariamente o produto, o que será gerado.

Assim, quando o Aldo fala do Arena, é porque por mais que o Arena tivesse uma proposta artística inovadora e que tratasse das questões do povo brasileiro, era um teatro de 150 lugares que falava para um público muito específico. Quando surge o CPC o Arena começa a pensar que era preciso mudar o modo de vincular a produção artística e cultural ao Movimento Estudantil e Social. Isso significava que naquele momento uma atitude política também passou a determinar a forma e o conteúdo daquela produção.

Então, ao falarmos hoje na relação entre cultura, políticas públicas e movimentos sociais, é porque o modo de produção determina o produto. E quem é artista ou produtor cultural, quem pensa a cultura na sociedade, não pode ter como único paradigma o mercado como agente regulador do processo de criação e circulação de bens e produtos culturais.

Nesse sentido o vínculo com o Movimento Social e com o Movimento Estudantil é também uma atitude política face à questão cultural. É uma base que significa não só o trabalho do CUCA e do CPC, como toda a produção cultural e artística a partir do século 20 vinculada aos Movimentos Sociais.

Segundo aspecto: A relação dialética sobre o papel do CUCA para dentro e para fora do Movimento Estudantil. Especialmente nesse momento com a opção de um trabalho mais voltado para as comunidades e para os Pontos de Cultura.

Para dentro, o CUCA contribui para a “culturalização” da política. A política é uma dimensão da cultura, e não o contrário. Nesse sentido o CUCA contribui para pensar as formas, os procedimentos, as relações do Movimento Estudantil. E por fora, contribui também para politizar o Movimento Cultural.

A criação e mobilização do Movimento Social a partir da cultura é uma novidade no Brasil. Produtores e comunidades estão compreendendo que seu trabalho tem dimensão não só na atividade fim, mas que também o próprio fato de ser artista os coloca em outra dimensão na forma de organização da sociedade. A produção cultural está dentro da luta de classes e tem posição nela, inclusive com bandeiras próprias.

E o último aspecto: Constatar que a abertura da Bienal só foi realizada porque o CUCA trabalhou nela, com circenses, com o audiovisual produzido com as imagens recolhidas pela equipe de audiovisual e com atores sintonizados ,pois todos fazem parte de um coletivo de artistas que se conhecem pelas atividades do CUCA.

Isso tudo mostra que o CUCA pode avançar. Devemos pensar na possibilidade do CUCA criar e produzir de forma mais ambiciosa, pois somos capazes. Só foi possível realizar a abertura porque o CUCA se engajou no processo. Porque sua estrutura, seus artistas e redes articuladas se engajaram para realizá-la, permitindo a criação do produto artístico.

Isso mostra que o CUCA está preparado para assumir desafios maiores sem deixar de ser o que já é, bebendo nesse passado essencial, sendo essa rede cultural horizontal ligada ao Movimento Estudantil e à outras redes sociais e culturais e também apontando para um futuro onde a cultura gera um papel determinante na transformação da sociedade brasileira.

LUIZ PARRAS

Trabalhei em todas as Bienais. Na primeira Bienal fui assistente do montador da mostra de artes visuais – com muito orgulho – e agora sou coordenador.

A crise entre as Bienais nacionais, como na Bienal de São Paulo, a Bienal do vazio, com o pavilhão vazio, reflete uma crise institucional. O fato da menina que grafitou os pavilhões em branco e ficou mais de 40 dias presa, deflagra uma crise nas Bienais que não se repete nesta Bienal da UNE – que inclusive está bem “cheinha”.

A história desse projeto da UNE, a Bienal, começa já na fundação da UNE e perpassa o CPC, que acho que é a maior referência que a UNE teve para re-implementar um projeto mais consistente, mais organizado e com certa autonomia. Diante dos 10 anos de Bienal penso que este projeto é extremamente vitorioso porque conseguiu acumular muitas pessoas, que mesmo não “fazendo mais parte”, continuam fazendo parte, na verdade, porque quando a situação aperta a gente liga para eles. São pessoas que estão sempre próximas.

Isso se caracteriza como um grande diferencial, porque o Movimento Estudantil tem sua lógica de mudar a diretoria de 2 em 2 anos – e acho que tem que ser isso mesmo. Mas o movimento cultural tem outra característica, porque cultura é basicamente processo.

E do ponto de vista da cultura, se não se valoriza o processo, valorizando-se somente o final, comete-se um erro de estratégica para a construção de algo mais consistente. Portanto, a Bienal é um processo extremamente vitorioso e dá margem para mais 10 anos desse projeto.

Temos toda essa geração nova que está chegando, com os CUCA's que foram fundados na segunda Bienal, sendo que hoje 10 deles fazem parte do projeto Pontos de Cultura e são preponderantes dentro dessa rede. A partir da Bienal do Rio, que também já tinha essa relação com os Pontos de Cultura, e agora esta que conta com a mostra dos Pontos, fica evidente que é de extrema importância que a Bienal tenha se ampliado para outra rede de produtores de cultura e, sobretudo, essa rede dos Pontos de Cultura.

Então é extremamente importante para mim, fico muito orgulhoso. Esta Bienal está muito bonita, com mostras muito bacanas, muito bonitas e bem montadas, contando com uma equipe de voluntários muito afetuosos e responsáveis. Embora com todas as difciuldades, porque quem organiza é a UNE, não é fundação da Bienal de São Paulo, não é nenhum Banco Mundial.

Então é difícil mesmo organizar este evento, pois a gente faz isso aqui basicamente na marra. Dormimos muito pouco e mal, comemos muito pouco também. Mas fazemos porque temos vontade de fazer, sangue no olho, fogo nas ventas, porque temos o desejo de fazer isso aqui. E acho que isso é o mais bacana. Diante desse aspecto tenho certeza que esse é um projeto vitorioso para mais muito tempo.

Gostaria de agradecer ao Tiago, porque ele coordenou três Bienais, sendo que eu estive ao lado dele. Portanto, tenho uma admiração especial por ele, o considero praticamente um irmão. Aprendi muito e sei que ele tem muito a ensinar para o CUCA e para muita gente.

Núcleo de Comunicação CUCA da UNE

O atual Josué de Castro na 6ª Bienal da UNE

No dia 21, quinta-feira, o museu Henriqueta Catharino foi palco de um debate sobre a vida e a obra de Josué de Castro (1908-1973), patrono da Mostra de Ciência e Tecnologia da 6ª Bienal de Cultura e Arte da UNE. O acontecimento fez parte de um ciclo de três debates sobre produção científica que está acontecendo no evento.

Para ampliar a compreensão acerca do legado do autor de Geografia da Fome (1946), foi exibido o documentário Josué de Castro – Cidadão do Mundo (Silvio Tendler. Brasil, 2004). A fita mostra o percurso do pernambucano que era médico de formação e humanista nato. Castro não limitou suas pesquisas à medicina oficial, enveredou também pelas ciências sociais e denunciou a condição dos miseráveis do Brasil, ainda sem a devida atenção dos intelectuais brasileiros. Sem se enclausurar entre os muros da academia, Josué de Castro fez das margens do Capibaribe sua “Sorbone” e defendeu que a solução para a fome é muito mais simples do que aparenta, basta transferir parte de alguns gastos inúteis, como os da indústria bélica, para alimentar seres humanos. Assim, pregava que a paz se faz com “pão e amor”. Josué foi indicado três vezes para o Prêmio Nobel (dois “da paz” e um “de medicina”).

O filme foi debatido pelo próprio diretor, Silvio Tendler, pelo sociólogo Renato Carvalheira, pelo representante da Secretaria Nacional de Segurança Alimentar, Marcelo Piccin, e pelos estudantes presentes.

Os convidados, além de demonstrarem seus laços afetivos com o pensamento de Josué de Castro, fizeram reflexões sobre a fome no Brasil de agora. “Josué é muito atual, infelizmente. Se ele é muito atual, é porque o problema da fome é velho”, ressaltou Cavalheira.

O debate

“Para mim não há diferença em fazer um filme e debater um filme”, assim Tendler iniciou o debate, convidando o público a repensar a importância de Josué de Castro, a partir da película que dirigiu. O cineasta explicou que começou a incursão pela vida do pensador pernambucano, quando a família de Josué o convidou para realizar o documentário. No decorrer do projeto, passou a admirar, cada vez mais, o “teórico do mangue”. As filmagens possibilitaram uma aproximação entre o diretor e personalidades da tarimba de Dom Hélder Câmara e Darcy Ribeiro. Estas pessoas, que tanto se simpatizavam com Josué, deram vida ao filme através de relatos emotivos que narram a vida do médico desde a infância pobre, em Pernambuco, até a morte no exílio, em Paris.

Renato Carvalheira, diferente de Tendler, começou a afeiçoar com a figura de Josué de Castro ainda na infância, devido à influência do pai sociólogo. Porém, somente em 1996, despertou para a obra do pernambucano, através da música de Chico Science (Da lama ao caos). Na Universidade, procurou material sobre o cientista. Percebendo que a produção acadêmica sobre ele era escassa, resolveu pesquisá-lo. Em 1998, concluiu o curso de Ciências Sociais, na UnB, defendendo a monografia Josué de Castro: o teórico do mangue. Os estudos não se limitaram à graduação, o mestrado e o doutorado de Carvalheira também tiveram Castro como objeto de estudo. Na sua fala, o sociólogo esclareceu que alguns direitos tidos como básicos hoje, têm suas raízes na obra de Josué de Castro. É o caso do salário mínimo.

Dando mais ênfase nas condições contemporâneas da pobreza brasileira, Marcelo Piccin mostrou, através dos números da Secretaria Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional (SESAN), o quanto os escritos de Josué de Castro ainda são atuais, haja vista os índices de insegurança alimentar, em algumas localidades do norte-nordeste, que ultrapassa 50%. Isto indica que mais da metade destas famílias sofrem com a possibilidade de não ter alimento em casa ou, pior, chegam a passar momentos sem ter o que comer.

Josué de Castro, para Piccin, está entre os três maiores ícones do combate a fome da história do Brasil, junto a Hebert de Souza (Betinho) e o Presidente Lula. Este, por sinal, tem em Josué de Castro a base para alguns de seus programas sociais, tais como o Fome Zero e os Restaurantes Populares. Iniciativas estas, defendidas por Marcelo Piccin como de extrema necessidade. “Dar acesso ao alimento não é assistencialismo, é um direito humano”, reitera o representante da SESAN.

O debate encerrou com a participação dos estudantes presentes que, apesar de poucos, prolongou a conversa para além do momento previsto para o término.

Núcleo de Comunicação CUCA da UNE